O livro sobre a série Cartas de Areia, de José Rufino, apresenta uma seleção de 400 desenhos, pinturas e colagens produzidos pelo artista entre meados dos anos 1980 e 2015, entremeados de textos inéditos do próprio Rufino e do crítico de arte Adolfo Montejo Navas. Trata-se de uma série que se tornou emblemática na produção do artista: espécie de fio condutor, espinha dorsal ou revelação máxima de seu complexo processo de criação sempre desenvolvido em torno do eixo memória-esquecimento.
Campos de cana, árvores azuis, figuras toscas, máquinas, formas híbridas entre animais e coisas, olhos, mãos, veias, raízes, mesas, cadeiras, escrivaninhas, copos, relógios, caminhos, horizontes e toda uma cosmogonia de figuras e fragmentos textuais compõem as Cartas de Areia. Vários exemplares da série participaram de exposições importantes, como L’Art Dans Le Monde (Pont Alexandre III, Paris, 2000), e apareceram publicadas individualmente ou em pequenos grupos em revistas, catálogos e livros.
O atual projeto da APC procura reunir pela primeira vez o corpus principal desse importante conjunto de obras, permitindo uma imersão total no universo do Engenho Vaca Brava, o mundo canavieiro vivido por Rufino como um dos últimos meninos de engenho do ciclo de opulência econômica e cultural do Nordeste do Brasil.
Muito além de um livro de arte, o que se pretende apresentar ao público é também uma perspectiva sobre um documento sociológico e antropológico, uma revelação sensível de um sistema de relações humanas, que abrange o período entre o fim da escravidão no Brasil, a decadência dos engenhos tradicionais no Nordeste dos anos 1970 e aquilo que se transfigura nas mãos do artista a partir dos anos 1980.
O projeto encontra-se em fase de captação.