Em 2010 o artista Fabio Miguez começou a trabalhar na série de pinturas de pequeno formato Atalhos. Essa série, título da publicação, já soma mais de duzentas obras e condensa, de modo instigante, a produção recente de Miguez. As pequenas dimensões dão conta de uma prática quase diária de pintura, desocupada dos empenhos de tempo dos quadros de grande formato que o artista continua a produzir. Ele isola determinados elementos de sua obra, criando pequenas unidades de linguagem que se singularizam em cada quadro – para, depois, repetirem-se em subséries e variações formais e cromáticas. Há também uma certa dose de experimentação em relação à superfície, quase como se fossem um mostruário das técnicas domadas ao longo dos anos.
Muitas dessas pinturas guardam relação direta com a história da arte; recortam e ecoam partes de quadros de Piero della Francesca, Alfredo Volpi e Henri Matisse, não exatamente como citações, mas como comentários humorados sobre suas fontes. Outras remetem a situações pictóricas casuais encontradas em elementos arquitetônicos, como as fachadas de casarios (que reverberam os artistas citados acima), pedras rejuntadas, muros de tijolos. A articulação entre essas referências é o que torna possível uma relação híbrida entre a figuração e a abstração, singular neste corpo de obra. Porém, o cânone da abstração geométrica, que de fato nos vem como referência, comparece mais como referência cultural que exatamente uma linhagem à qual ele se filie diretamente. Não há um desejo inequívoco de ordem, mas antes um impulso poético em relação às formas.
Texto: Rodrigo Moura
Projeto gráfico: Luciana Facchini